Dada a complexidade e as repercussões que o autismo tem no ser humano torna-se evidente a procura de explicações sobre as alterações inerentes a esta perturbação do desenvolvimento. Surgiram ao longo do tempo várias teorias psicológicas sobre o autismo sendo elas:
Teorias Psicanalíticas
· Teoria da mente (Leslie e Frith, 1985);
· Teoria do funcionamento executivo (Ozonoff,1985);
· Teoria da coerência central (Frith, 1989);
· Diátese afectiva (Greenspan; 2000);
Teorias psicanalíticas
Tendo sido iniciada por Sigmund Freud esta teoria foi desenvolvida e estudada por outros autores. Melanie Klein foi pioneira no tratamento e reconhecimento de psicoses na criança, no entanto não fez a distinção entre autismo e esquizofrenia infantil, apesar de reconhecer que crianças com autismo apresentavam características diferentes de crianças com outras psicoses. Klein explicou o autismo como uma inibição no desenvolvimento, na qual decorria um conflito entre o instinto de vida e de morte que era causador de angústia na criança. Segundo esta autora a criança sofria um bloqueia na sua relação com a realidade o que levava a um desenvolvimento da fantasia e défice na capacidade de simbolização.
Margaret Mahler por sua vez identificou diferentes fases no desenvolvimento psicológico do bebé. Uma das fases identificada dizia respeito ao narcisismo primário que estaria presente nas duas primeiras semanas de vida e era marcada pela ausência de consciência do agente materno. Para Mahler o autismo era um subgrupo das psicoses infantis e uma regressão ou fixação a uma fase inicial do desenvolvimento de não-diferenciação perceptiva, sendo que os sintomas que tomavam maior ênfase seriam a dificuldade em integrar sensações provenientes do mundo externo e interno e em perceber a mãe como representante do mundo exterior.
Bruno Bottelheim compara a angústia sentida pelos autistas com a angústia sentida aquando de uma situação de morte iminente, no entanto na sua visão a criança autista luta contra essa angústia Sugere a hipótese de que o autismo é uma paragem psicogenética precoce que se manifesta por um bloqueio do bebé no relacionamento de “mutualidade mãe-filho”, deixa como tal os pais fora de todo o processo terapêutico. O autismo não é visto como algo inato sendo que o meio ambiente e a relação mãe/filho não são suficientes para provocar o autismo.
Donald Meltzer fala em desmantelamento na criança autista “ a mente cai aos pedaços como os tijolos de uma construção, pela acção do tempo”. Aborda a bidimensionalidade do autismo e a identificação adesiva.
Posteriormente Francis Tustin afirma existir uma fase autística normal no desenvolvimento infantil ,a diferença entre o patológico e o normal seria o grau que essa fase autistica atinge. Fala ainda da reacção traumática à experiência de separação materna, que envolveria o predomínio de sensações desorganizadas, levando a um colapso depressivo defendendo a hipótese de que o bebé faz a experiência da separação corporal com o objecto antes de ter interiorizado a ausência dele. Defende no autismo a presença de uma incapacidade de filtrar as experiências sensoriais, o que leva a um isolamento da criança em relação aos estímulos. Considera que na criança autista não há mentalização.
Teorias Afectivas
Trevarthen (1979) surge com o termo de intersubjectividade primária que é explicado mais tarde por Hobson. Segundo Hobson (1993) o autismo tem origem numa disfunção afectiva primária. Como tal, os autistas são incapazes de interagir emocionalmente com os outros não reconhecendo portanto estados mentais. Este facto leva ao prejuízo na habilidade para a abstracção e simbolização.
Teoria do funcionamento executivo
Segundo Ozonoff (1985) o funcionamento executivo é a capacidade de libertar o pensamento de uma situação imediata e do contexto para orientar comportamentos através de modelos mentais ou representações internas. Trata-se da capacidade de planear que não está presente em crianças com autismo. Apesar da investigação sobre a hipótese de comprometimento da função executiva como défice subjacente ao autismo ser uma área promissora, muitas questões ainda permanecem abertas, como por exemplo, a questão da relação causal função executiva-défice social; dificuldades acerca da especificidade deste comprometimento na área do autismo; a necessidade de se investigar a natureza e intensidade do comprometimento na função executiva dentro dos subgrupos que compõem o espectro autista e a sobreposição dessa teoria com a de coerência central.
Teoria da diátese afectiva
Esta teoria fala das relações afectivas no autismo. Segundo Greenspan (2000) o bebé com autismo tem uma incapacidade básica para coordenar os afectos/ planeamento motor/ simbologia emergente.
Bibliografia:
· Bosa, Cleonice; 2001. As Relações entre Autismo, Comportamento Social e Função Executiva. Psicologia reflexão e crítica. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Brasil.
· Duarte, Silvia; 2009. Diapositivos de apoio às aulas de Ciências Sociais e Humanas. Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto. Vila Nova de Gaia.
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